Duas Lições de Amor
- telosdosul
- 2 de nov. de 2023
- 7 min de leitura
Duas Lições de Amor
As questões que envolvem o relacionamento a dois são as que mais consumiram e que consomem meus neurônios nesta vida. Eu acho que nasci pra resolver várias dicotomias nesse sentido porque acredito que num relacionamento compartilhado por um casal realmente comprometido um com o outro, em que de fato existe uma parceria, está a chave da cura de ambos.
Eu creio que quando as pessoas param de sofrer por amor, a alma se liberta para poder AMAR verdadeiramente em todo seu esplendor.
Eu também acredito que ao alcançar esse estágio um casal se torna um farol, não para os outros, mas para tornar todos os caminhos que o amor trilha ainda mais visíveis para que mais histórias bem sucedidas possam ocorrer.
Mais que tudo, eu acredito na imperiosa necessidade de o Amor florescer, e por isso, se me fosse concedido um superpoder, eu pediria para andar atrás do Cupido, com um bálsamo na mão, para derramar sobre as dores de amor dos outros e convencê-los de que a ferida do filho de Afrodite não intenciona matá-los mas sim iluminar suas vidas trazendo à luz tudo aquilo que está trancado dentro do peito, e não por acaso, bem guardado ali no chakra cardíaco, que é o Chakra da Integração.
Por conta disso, quero compartilhar com quem me ler, duas lições de amor, praticamente tudo o que de mais importante aprendi nessa jornada, especialmente no Xamanismo, através das medicinas da florestas, como o rapé, que eu amorosamente chamo de Pai Rapé, e que me aconselha quando me encontro numa dessas encruzilhadas sentimentais que fazem a gente perder o prumo.
Não fosse pelo Amor jamais nos arriscaríamos a expor nossas fraquezas, nossos mais escondidos temores, não colocaríamos em cheque nossa própria imagem perante os amigos, família, colegas de trabalho. Uma pessoa apaixonada pode ser algo bem estressante para quem está ao redor. A verdade é que chega um ponto em que todos falam (ou pensam): “Por favor, apenas supere isso! Não te aguento mais desse jeito!”
E aí restam as terapias, os livros de auto-ajuda e os meios que cada um conseguir encontrar para lidar com uma dor que não dá para ser esquecida porque simplesmente ela não pára de queimar – mesmo que todos, inclusive você, quisessem muito que isso pudesse ocorrer.
Mas a flecha do Cupido infecciona, por isso não adianta fingir que ela nunca ocorreu. A flecha vai ficar ali e te deixar febril até que você desenvolva anticorpos contra todos os efeitos colaterais que ela te faz sentir.
A flecha de Eros te abriu uma ferida e não há outra opção a não ser tratá-la; quanto mais você fingir que ela não está ali mais ela vai doer e espalhar a infecção para outros órgãos.
O Cupido, meus amigos, é aquela doença crônica que chega para obrigar a quem nunca ligou pra saúde a mudar de hábitos. Definitivamente. Se quiser viver.
A flecha espetada no seu cardíaco é de ouro, e traz gravada uma inscrição:
“Decifre-se ou Consuma-se”

Enquanto a Esfinge de Tebas convidava à reflexão sobre a condição humana, o Cupido é uma criatura mitológica que propõe encontrar nesta mesma condição a resposta na análise da mais básica síntese da experiência humana: a busca pelo Amor.
Somente quando compreendemos os nossos mecanismos internos e como eles muitas vezes conflitam entre si é que começamos a vislumbrar o fio do novelo das nossas conturbadas emoções. Embora cada um tenha de fazer a jornada por si, e um texto não pode suprir toda a necessidade de um acompanhamento terapêutico, há algo que eu posso compartilhar com você, que acredito seja de grande valia para lidar com todas as suas questões desse assunto, sejam quais forem:
“Independente do que tenha ocorrido, ocorra ou ocorrerá, não desperdice seu tempo procurando compreender a mente, as emoções, as dificuldades e as motivações do outro. Empenhe toda a sua energia buscando entender como funciona a sua mente, os seus mecanismos de fuga, a sua negação de emoções, os seus entraves e as SUAS REAIS MOTIVAÇÕES.”
Isso não é falta de amor, nem de empatia. É pura estratégia cirúrgica.
A seu lado estará outra pessoa com uma flecha atravessada ao peito, lutando para sobreviver e sem saber como.
Acredite: essa pessoa já tem coisas demais para se ocupar, e se você permanecer focada no processo dela, não irá ajudá-la – afinal você não é o cirurgião e sim também paciente neste momento – e muito da sua alegada preocupação com o outro, mesmo ele sendo seu GRANDE AMOR, tem uma grande parte de alienação quanto às suas próprias necessidades e de negação do seu próprio poder ao se ver envolvida nesse processo de emergência médica.
Uma pessoa em dor intensa não consegue lidar com a dor do outro. Um acabará culpando o outro ou acusando-o de insensibilidade quanto às suas necessidades e pela sobrecarga que carrega.
Ambos procuram alívio, não tendo para si, como poderão ofertar o que não têm?
O que fazer, então?
1- A Lição do “Quem pariu Matheus que o embale”

Todos carregamos em algum nível as dores da negligência parental; não importa o quanto nossos pais tenham sido bons, em algum momento eles nos decepcionaram e muito.
No relacionamento com o par é natural que inconscientemente procuremos uma espécie de RESSARCIMENTO por essas dores.
“Você disse que me ama, então você tem de me compensar por isso, isso, aquilo e aquilo outro que me aconteceu, por tudo o que eu não tive na infância, pela vida difícil que eu passei, por conta da minha condição fisica, pela minha doença, porque sofri muito nos meus antigos relacionamentos etc etc etc…”
É louco, né? Mas é REAL.
E você também faz isso, esteja consciente ou não. Apenas pare de negar.
Você, sendo uma pessoa adulta e querendo ser feliz no amor provavelmente não deseja impor essa carga ao seu parceiro, porém a Criança Interior ferida que nós todos carregamos não liga para o nosso senso de certo/errado. Ela só quer ser compensada.
Agora. Já. E fará birra caso não consiga o que quer.
Como lidar com isso? Da mesma forma que lidamos com uma criança mimada que está incomodando demais e todo tipo de diálogo já foi tentado: dando a ela o que ela quer.
Ela quer atenção? Dê. Ela quer carinho? Dê. Ela quer viajar, ir passear e ganhar presentes? Dê, dê e dê de novo. Dê tudo o que ela quer até que ela esteja satisfeita e convencida de que é amada e volte a confiar que terá suas necessidades atendidas.
Só tem um detalhe: quem tem que dar todas essas coisas para a sua criança interior, quem tem que suprir TODAS as necessidades dela é VOCÊ. Não é seu parceiro.
Mime-se, leve-se para passear, compre-se presentes e dê-se flores no café da manhã.
Seu parceiro tem a Criança Interior dele para saciar, acalentar, acalmar… E acredite, é uma criança bem teimosa, chorosa e traumatizada também.
Libere o outro do fardo de ter de fazer você feliz.
Encare a oportunidade de amar apenas como a dádiva que é.
Seja grato pela oportunidade de poder estar em contato com os sentimentos mais profundos do seu ser.
Quando tiver feito isso, você verá simplesmente a flecha que estava fincada em seu peito cair; esse é o princípio do caminho da cura.
Ao separar essas duas coisas – a não-obrigatoriedade do outro em te fazer feliz e o Amor como um fenômeno à parte e isolado – fica mais fácil observar outras questões que causam desgaste no convívio, como finanças, criação de filhos, vida social, escolhas profissionais etc.
Ao impedirmos o conceito do “Você tem de me fazer feliz senão é porque não me ama” de entrar no meio da conversa, fica mais fácil abordar as dificuldades de forma objetiva focando em soluções concretas e sem esbarrar nas armadilhas das chantagens emocionais, expressas verbalmente ou não, pois a manipulação das emoções do outro mina a confiança do casal e acaba por promover o afastamento entre ambos.

2- A Lição do Piano
O piano, um dos mais românticos instrumentos musicais, é tocado com duas mãos. A mão esquerda em geral permanece do meio para a parte oeste do teclado, sendo responsável pelas notas mais graves e encorpadas. É essa mão que marca o compasso da melodia, dando acompanhamento à mão direita, que se move ao leste, dedilhando o ébano e o marfim com maior velocidade, enriquecendo com notas mais altas e formando acordes que definirão em conjunto a harmonia da melodia.
A mão esquerda é uma mão que toca na maioria das vezes de forma mais lenta, e a direita, mais rápida, não repetirá as mesmas notas que a esquerda. Mão direita e mão esquerda tocam notas afins, porém diferentes. Elas têm ritmos, notas e sonoridades distintas. Mas seu destino é o mesmo pois elas fazem parte de uma mesma canção.
Então, por favor, em nome da beleza do ritmo da vida, pare de exigir que seu par faça as mesmas coisa que você, do mesmo jeito que você, que tenha as mesmas perspectivas que você.
Parte do charme dele é justamente ter um panorama totalmente diferenciado do seu, pois sua área de ação é o outro lado do piano. Aprenda a ver nas diferenças a fortaleza dessa relação e não o problema.
Nem caia na armadilha na qual muitos caem de ‘desistir do seu próprio ritmo’, quando desistem de seus interesses e ideais por conta do medo de perder o vínculo da relação, passando então a procurar ‘se adaptar ao ritmo do outro’. Quando isso ocorre, algo muito ruim acontece: ao adotar o compasso e as notas do outro, a pessoa acaba por se esquecer de quem realmente é, e inverte o seu senso de identidade assumindo o da outra pessoa.
Ela não será feliz, e o outro acabará por sentir falta daquilo que um dia tanto tentou mudar.
Quando isso ocorre, a música cessa.
~*~
Era isso que o Pai Rapé me pediu pra escrever hoje.
Essa é minha contribuição, do fundo do meu coração, para que sua história de amor um dia vire canção e possa ser ouvida, por muitos e muitos anos….
Em tempo: A Esfinge de Tebas, uma vez decifrada, ao invés de devorar quem a desafiava, atirou-se de um precipício, por isso vale a pena enfrentar nossos monstros em prol do suicidio coletivo de todos os nossos medos.
J Stella
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